22.9.14

A vida, essa danada...

Faz quase dois anos que preenchi aquela ficha, meio às pressas, com o Gu me esperando no carro, numa das muitas idas ao Fórum quando decidimos adotar uma criança. De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Inclusive a partida da minha mãe que, acometida de um câncer, lutou bravamente por dezoito meses até se desligar da matéria e continuar sendo meu anjo da guarda. A tristeza não mudou meu amor pela vida, mas deixou um vazio tão grande que uma só pessoa não conseguiria preencher.

Foi aí que um telefonema numa tarde de sexta-feira virou tudo de ponta cabeça, de novo. “Te ligaram do Fórum? Entrevista sexta-feira que vem lá com a assistente social”, dizia o Gu, com voz ofegante no celular.

Tudo bem, é só uma entrevista. Tanto tempo sem notícia, só mais um passo, vamos lá. Conversamos um pouco durante a semana e decidimos mudar algumas coisas no perfil pretendido da criança. Em vez de zero a seis anos, mudamos pra a partir de dois. Em vez de “menina com até um irmão”, só uma menina. Dois de uma vez só seria muita loucura. Isto posto, sem fazer planos e sem grandes expectativas, comparecemos na hora e local marcados e respondemos uma série de perguntas sobre a nossa infância, família, relacionamento.

Até que a assistente puxa aquela ficha preenchida em 2012 e pergunta se algo mudou. Explicamos que sim, conforme escrevi aí em cima. Então ela faz uma carinha de decepção e confessa: “na verdade chamamos vocês porque surgiu um casalzinho de irmãos”.

Eu não sou chorona. Sério. Mas naquela hora me deu uma emoção TÃO grande que eu não consegui me conter. O Gu ficou com os olhos maiores que o rosto. E quando ela disse que o menino tem três anos e a menina quatro e meio, a gente se olhou e eu acredito que foi ali que começamos a amar os nossos filhotes.

Ganhamos uma semana pra decidir se aceitaríamos duas crianças, mas poucas horas depois já estávamos decididos a conhecer os pimpolhos. Foram dias de muita ansiedade até a vinda da assistente ao nosso apartamento. Muitas perguntas e quase nenhuma resposta. Mas uma notícia muito boa: não contei que eles têm um irmão mais velho, de oito anos, que está em outra instituição. Foram separados porque dificilmente alguém adota três de uma vez. Ficamos arrasados de imaginar o maiorzinho vindo visitar os pequenos e voltando sozinho pro abrigo, mas, felizmente, ele também vai ser adotado por outra família. E a aproximação vai se dar ao mesmo tempo. Segundo nos disseram, é questão de dias.


A aproximação das nossas famílias biológicas já começou: cada revelação é uma emoção, todo mundo se unindo numa atmosfera de bem querer. Assim como os amigos, cada um que sabe se emociona, torce pra dar tudo certo.


Agora estamos no nível máximo de ansiedade, esperando a próxima ligação pra marcar a visita e conhecê-los. Quase morrendo de amor agudo. Por isso eu fico com a pureza da resposta das crianças: é a vida, é bonita e é bonita.

3 comentários:

Thais disse...

Que lindo, não encontro palavras.
Deixo as do poeta Rumi:
"A tarefa não é buscar o amor, mas apenas procurar e desfazer todas as barreiras dentro de si mesmo que você construiu contra ele."
Abençoados, um grande abraço!

Rafaela disse...

Querida Aline! Quase chorei. Que notícia maravilhosa! Desejo que vocês sejam muito muito muito felizes. Não vejo a hora de ver a foto da família completa no instagram. Com carinho. Rafaela

Anônimo disse...

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