17.9.09

Alma lavada (7) – o pré-operatório

Na sexta-feira cheguei cedo levando pijama e objetos de higiene pessoal. O dia era de repouso, tanto que o café da manhã foi servido na cama. Fui de carona com uma senhora que conheci lá e mora perto da minha casa, que estava se tratando pela segunda vez e já trabalhava como voluntária. Depois descobrimos que ela conhecia o Gustavo desde pequeno.
Não lembro exatamente quais foram as terapias, mas o dia foi bem calmo e relaxante. Às 18h pediram que nos recolhêssemos, depois de uma refeição leve. Ficamos todos deitados em silêncio até às 20h. Eu estava quase dormindo quando um dos voluntários levantou a venda dos meus olhos. “Vamos?”.
Todos de camisolão branco, descemos juntos a rampa que dava acesso ao térreo, cada um amparado por pelo menos um voluntário. A luz estava bem suave. Enquanto a gente descia, eu tremia de frio e de nervosismo, e o voluntário que me acompanhava, disse: “eu passei pela mesma situação há sete anos. Depende de ti. Vai com fé, confia e não cria expectativas”. Aquelas palavras me deixaram atordoada, porque eu tinha passado boa parte do dia mentalizando que queria sair dali curada. Entramos no auditório onde havia algumas fileiras de cadeiras. Os pacientes sentaram e, atrás de cada um, ficava um voluntário de pé.
Uma mulher, ao centro, nos disse algumas palavras. O que mais ficou na minha memória foi: “não barganhem com Deus. Não prometam que se ficarem bons vão mudar, vão se cuidar, fazer exercício, fazer caridade. Se esse desejo for verdadeiro, façam, independente do que acontecer. Muitas das pessoas que trabalham aqui se curaram; muitas não. A fé, o merecimento, e muitas razões que desconhecemos é que determinam o que acontece com cada um”.
Antes de deixar o auditório, rezamos mais uma vez o Pai Nosso. A emoção era geral e incontrolável. Eu já estava debulhando em lágrimas há muito tempo.
Voltamos a subir a rampa, umas 100 pessoas, todos juntos, de branco, caminhando devagar sob uma luz bem suave e ouvindo a interpretação da Maria Bethânia de “Tocando em frente”. Fica difícil descrever a cena e a emoção.
Voltamos a deitar nas camas, de onde cada um seria levado depois em uma cadeira de rodas até o centro cirúrgico.

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