15.9.09

Alma lavada (5) – tratamentos

Lembro que logo no início, antes de nos mostrarem os quartos, nos pediram pra subir a rampa de acesso, um por um, e parar por alguns segundos em frente a um espelho pra se observar, e depois disso, subir, guardar os pertences e ficar de camisolão branco, roupão e chinelo, que seria nosso uniforme oficial. Na volta, deveríamos parar em frente ao espelho mais uma vez. A sensação foi bem esquisita, mas hoje interpreto que foi como se estivéssemos guardando as máscaras por um tempo pra ficarmos mais parecidos enquanto estivéssemos juntos.

Não foi fácil no começo deixar o preconceito de lado. Tudo parecia muito aquela coisa de auto-ajuda, mas já que estava lá, resolvi entrar no clima e me entregar ao que estava sendo oferecido na maior boa vontade.

Mulheres e homens ficavam em quartos separados. No meu havia outras três colegas; uma delas, com um recém-descoberto câncer de mama, era a mais abalada.

Tivemos algumas conversas com médicos “de verdade” e outros terapeutas, antes de começarem os primeiros tratamentos. Não lembro a ordem, mas fizemos bastante cromoterapia, aplicação de um tipo de argila no local doente, terapias com água, com iodo, algumas outras que eu nem sabia o que eram. Ficávamos deitados com um paninho branco sobre os olhos, e cada terapia era aplicada com cerca de cinco pessoas em volta da cama de cada paciente. Pra cada um, o tratamento era diferenciado, fosse na ordem de aplicação ou no tipo de terapia.
Havia serviço de enfermagem 24h, e o que mais me marcou foram as massagens nos pés. Aqueles dias estavam gelados, e era muito reconfortante quando alguém vinha, massageava e esquentava os pés.

Como é que alguém sai da sua casa, dos seus afazeres, pra voluntariamente, ir fazer massagem nos pés de pessoas estranhas? E quando a gente dizia “obrigada”, geralmente a resposta era “nós é que te agradecemos”. Ali começou a cair a minha ficha.

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