Latinidad

Uma das coisas que me surpreendeu nessa viagem foi a diferença gritante no jeito de ser dos franceses. Claro que falei com poucas pessoas, não dá pra generalizar, mas as minhas experiências deixaram uma impressão bem ruim, de gente travada, fechada. Na rua, pouca gente fazia questão de dar informação. Mas o mais estranho foi no trem. Numa das trocas de cabine, eu sentei de frente pra dois homens. Um já estava de olhos fechados, de I-pod nos ouvidos, e nem se mexeu. O outro até fez um esforcinho pra esboçar um "oi", mas logo virou a cara e enfiou os fones de ouvido. Eu não tinha levado o meu livro por causa do peso, fiquei com cara de paisagem olhando a paisagem, no maior tédio, enquanto os meus colegas jogavam pife no outro vagão. Seriam quatro horas de viagem...
Até que, na cabine ao lado, comecei a ouvir duas moças falando castelhano, sentadas de frente pra um cara que tomava cerveja em silêncio. Fiquei pescando umas partes da conversa, elas riam o tempo todo, pareciam ter certeza que ninguém entendia o que diziam. Até que o cara que tava na frente delas se levantou, olhou pras duas e perguntou, em espanhol, se elas queriam alguma coisa do bar. Elas fizeram cara de espanto, disseram que não, e quando ele saiu, caíram na gargalhada. Eu não pude deixar de rir também. Perguntei se eram Argentinas, elas confirmaram, e quando eu falei que era de Florianópolis, mostraram o maior interesse em conhecer, pois já tinham ouvido falar bastante. Os dois na minha frente continuavam impassíveis.
Quando o cara voltou, falou que elas não se preocupassem, porque ele até falava espanhol, mas na verdade era italiano, e não tinha entendido nada da conversa delas, porque falavam muito rápido. Eu sei que começamos a conversar e já me chamaram pra sentar com eles. O tempo passou voando, cada um contou sua história, e no final nos despedimos com abraços e beijos.
Os outros dois continuaram brincando de estátua, e quem nos olhava, rindo e conversando, fazia uma certa cara de "ui, esses latinos!".
Com muito orgulho!