Nessa última quarta-feira, dia 21, um dos cabos da fiação subterrânea de energia elétrica, no centro de Florianópolis, entrou em curto-circuito por conta de sobrecarga. O calor na galeria fez trepidar as tampas, e a fumaça ficou aparente na superfície, e foi possível ouvir o som dos estouros. Um incidente que chamou a atenção de quem passava, e que obrigou técnicos da empresa de energia a desligar 109 unidades consumidoras por algumas horas para o conserto (o sistema atende 2,3 milhões de unidades). Quem viu se assustou, e certamente relatou o incidente quando chegou em casa.
Até aí, uma ocorrência no sistema elétrico, ocorrida no mesmo dia em que um vendaval lançou um outdoor sobre a rede e deixou quase 50 mil consumidores sem energia na cidade vizinha de São José, e exigiu bem mais esforço dos eletricistas, principalmente no que tange à mobilidade – está cada vez mais difícil vencer o trânsito para atender às ocorrências.
Acontece, porém, que alguns setores da nossa imprensa não se conformaram em ver somente a fumaça, queriam ver fogo. Assim que soube do ocorrido, entrei em contato com o gerente da regional e com o colega que nos apóia na comunicação local. Tudo explicado, comecei a atender os diversos pedidos de esclarecimento, deixando claro que não se tratavam de explosões como as acontecidas no Rio de Janeiro, onde o cabeamento da energia corre junto com a tubulação de gás – situação que não ocorre em Santa Catarina.
Pouco tempo depois começam a pipocar as “matérias” sobre as “explosões”, cheinhas de adjetivos. Fumaça virou fumaça negra. Pessoas assustadas “corriam e gritavam”. Rapidinho chegou o primeiro telefonema de um portal nacional. Pacientemente, liguei pra alguns, expliquei a diferença, tentando evitar a reprodução dos erros nos veículos impressos do dia seguinte. Em vão.
Depois de dar umas dez entrevistas, algumas às dez da noite, outras às sete da manhã, outras ao vivo com problema de link, o gerente regional já estava exausto. Eis que aparece uma nova ligação: “aconteceu de novo, um colega viu mais um bueiro explodir, agora no Sambaqui”. Não é bueiro, é galeria subterrânea. Não, não temos cabeamento subterrâneo no Sambaqui. Não, não estamos omitindo nada nem minimizando a situação.
Pensa que adiantou? “Mais um bueiro explode em Floripa. Agora no Sambaqui”. Comentários raivosos amplificam o absurdo.
É, realmente acho que fizeram certo em questionar a validade do diploma de jornalismo. Muita gente que tem, joga o seu no bueiro. Quer saber mais? Fiz a minha parte. Que se exploda.
(luminária criada pelo designer alemão Ingo Maurer)