17.5.20

Tirando a poeira



Querido blog abandonado,

O ano é 2020. O mundo atravessa uma pandemia e o Brasil está um pandemônio. O novo coronavírus, que surgiu na China, se espalhou pelo planeta em poucos meses. Aqui já estamos em quarentena há mais de 50 dias. Mais de 50 dias que as crianças estão sem aulas presenciais. Os quatro dentro de casa 24/7. Trabalhamos, damos aulas, administramos conflitos, cozinhamos. Cozinhamos muito.

Quando saímos para a rua precisamos usar máscaras. Parece cena de filme de ficção.
Não bastasse a polarização política que já era enorme antes, agora temos as discordâncias entre os negacionistas do vírus e os trombetas do apocalipse. Os moderados continuam tendo que aturar essa disputa ideológica que turbina o retrocesso do nosso pobre Brasilsinho.
Enquanto isso a pandemia avança. Hoje, dia 17 de maio, o Brasil já é o 4º país mais infectado do mundo.
Falando em 17 e em Brasil, aconteceu o que eu mais temia: o presidente se revelou ser exatamente como achei que seria.
Falando em quarentena, aconteceu o contrário do que eu imaginaria: tô com menos tempo livre que antes.
Ainda assim, pretendo retomar a escrita, pra registrar algo desses tempos estranhos. Inté!

22.9.14

A vida, essa danada...

Faz quase dois anos que preenchi aquela ficha, meio às pressas, com o Gu me esperando no carro, numa das muitas idas ao Fórum quando decidimos adotar uma criança. De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Inclusive a partida da minha mãe que, acometida de um câncer, lutou bravamente por dezoito meses até se desligar da matéria e continuar sendo meu anjo da guarda. A tristeza não mudou meu amor pela vida, mas deixou um vazio tão grande que uma só pessoa não conseguiria preencher.

Foi aí que um telefonema numa tarde de sexta-feira virou tudo de ponta cabeça, de novo. “Te ligaram do Fórum? Entrevista sexta-feira que vem lá com a assistente social”, dizia o Gu, com voz ofegante no celular.

Tudo bem, é só uma entrevista. Tanto tempo sem notícia, só mais um passo, vamos lá. Conversamos um pouco durante a semana e decidimos mudar algumas coisas no perfil pretendido da criança. Em vez de zero a seis anos, mudamos pra a partir de dois. Em vez de “menina com até um irmão”, só uma menina. Dois de uma vez só seria muita loucura. Isto posto, sem fazer planos e sem grandes expectativas, comparecemos na hora e local marcados e respondemos uma série de perguntas sobre a nossa infância, família, relacionamento.

Até que a assistente puxa aquela ficha preenchida em 2012 e pergunta se algo mudou. Explicamos que sim, conforme escrevi aí em cima. Então ela faz uma carinha de decepção e confessa: “na verdade chamamos vocês porque surgiu um casalzinho de irmãos”.

Eu não sou chorona. Sério. Mas naquela hora me deu uma emoção TÃO grande que eu não consegui me conter. O Gu ficou com os olhos maiores que o rosto. E quando ela disse que o menino tem três anos e a menina quatro e meio, a gente se olhou e eu acredito que foi ali que começamos a amar os nossos filhotes.

Ganhamos uma semana pra decidir se aceitaríamos duas crianças, mas poucas horas depois já estávamos decididos a conhecer os pimpolhos. Foram dias de muita ansiedade até a vinda da assistente ao nosso apartamento. Muitas perguntas e quase nenhuma resposta. Mas uma notícia muito boa: não contei que eles têm um irmão mais velho, de oito anos, que está em outra instituição. Foram separados porque dificilmente alguém adota três de uma vez. Ficamos arrasados de imaginar o maiorzinho vindo visitar os pequenos e voltando sozinho pro abrigo, mas, felizmente, ele também vai ser adotado por outra família. E a aproximação vai se dar ao mesmo tempo. Segundo nos disseram, é questão de dias.


A aproximação das nossas famílias biológicas já começou: cada revelação é uma emoção, todo mundo se unindo numa atmosfera de bem querer. Assim como os amigos, cada um que sabe se emociona, torce pra dar tudo certo.


Agora estamos no nível máximo de ansiedade, esperando a próxima ligação pra marcar a visita e conhecê-los. Quase morrendo de amor agudo. Por isso eu fico com a pureza da resposta das crianças: é a vida, é bonita e é bonita.

7.4.14

39.10

Tem um pensamento recorrente assolando minha cabeça: vou fazer 40 anos e faltam só dois meses. Parece mentira. Mas é verdade!!
Engraçado o peso que essa idade tem. Não me preocupei nem um pouco com os 30. A sensação que eu tenho agora é a de que vou receber um selo, um carimbo, um atestado...de velha! Mas juro que não sou, juro!
Busquei no Google alguma inspiração sobre o significado de fazer 40 anos, mas só encontrei coisas bregas e textos de auto-ajuda, o que me deixou ainda mais desencaixada do meu futuro padrão. Dia desses li que a nova "meia-idade" começa aos 53. Ainda tenho 13 anos de vida útil, então. Ah, pára tudo, né??
Do jeito que me sinto hoje vou demorar décadas pra me achar velha. A primeira coisa que deveria mudar é esse tenebroso termo "quarentona". Nada que termina com ONA pode fazer bem pra cabeça de alguém, ainda mais se for mulher. Pode ser quarentérrima, quarentíssima, quarentop. Que mais?
Afinal, depois de quatro décadas vagando pelo planeta já deu pra aprender alguma coisa e de estar bem à frente das menos experientes. Enquanto isso deixa eu aproveitar meu pouco tempo de vida pré-enta. Sabe-se lá o que acontece depois.


17.3.14

A cada um cabe o que é seu

Quase dois anos sem blogar...quanta coisa aconteceu! Muitos posts não publicados. Além das mudanças no trabalho, uma novidade em especial me afastou do blog: minha mãe descobriu um câncer.
Quem tem ou teve um caso na família sabe bem como é. Ela fez os tratamentos convencionais que estavam ao alcance. Sem muitos resultados, agora vive em função das alternativas paliativas. Daria um blog inteiro tudo que já passamos e tentamos. Mas não é o caso de contar aqui.
Hoje me deixei abater pelo desânimo, e há pouco resolvi abrir aquele livrinho "Minutos de sabedoria", pra ver se lia algo animador. Caiu pra mim a pergunta: "você já parou pra agradecer o ar que respira?"
Isso me fez pensar sobre as consequências boas que a doença trouxe. Sim, até a doença pode fazer bem.
Mais aprendizado, responsabilidade, união, fé. O fardo é do peso que a gente é capaz de carregar.
Agradeço o meu e peço paciência e força pra não fazer feio.

3.5.12

De encher o coração

Essa semana teve dois momentos muito especiais: pude voltar à Casa Lar Luz do Caminho, nos Ingleses, onde estão dez crianças de zero a três anos e tive a oportunidade de conhecer alguns dos projetos organizados pelo padre Vilson Groh. Conhecer pessoas que se doam pelo bem de outras, que multiplicam recursos escassos pra fazer diferença nas vidas de muita gente, emociona e renova as esperanças. A “Luz do Caminho” começou há menos tempo, mas não com pouco sacrifício a casa acolhe os pequeninos encaminhados pelo conselho tutelar e ministério público. Um dos bebês que estão lá agora tem cinco dias de vida. Quem cuida de um bebê pode imaginar multiplicar por dez, literalmente, o trabalho de cuidado, alimentação, troca de fraldas. Eles fazem tudo isso sem nenhum recurso público, e mantém as crianças e o ambiente impecáveis. Já o trabalho do Padre Vilson tem três décadas, e fez por essa cidade algo que poucos podem imaginar. Desde a creche até o trabalho de proteção à testemunha, os projetos sociais atendem por volta de cinco mil pessoas. Pude conhecer de perto o CEDEP, a ACAM e o Centro Cultural Escrava Anastácia, e fiquei maravilhada com a doação das pessoas que trabalham nesses lugares. Daria um filme, um livro. Mas, por ora, rendeu esse singelo post e uma vontade imensa de colocar uns tijollinhos na construção desse mundo melhor.

22.3.12

Explosão de sensacionalismo

Nessa última quarta-feira, dia 21, um dos cabos da fiação subterrânea de energia elétrica, no centro de Florianópolis, entrou em curto-circuito por conta de sobrecarga. O calor na galeria fez trepidar as tampas, e a fumaça ficou aparente na superfície, e foi possível ouvir o som dos estouros. Um incidente que chamou a atenção de quem passava, e que obrigou técnicos da empresa de energia a desligar 109 unidades consumidoras por algumas horas para o conserto (o sistema atende 2,3 milhões de unidades). Quem viu se assustou, e certamente relatou o incidente quando chegou em casa.
Até aí, uma ocorrência no sistema elétrico, ocorrida no mesmo dia em que um vendaval lançou um outdoor sobre a rede e deixou quase 50 mil consumidores sem energia na cidade vizinha de São José, e exigiu bem mais esforço dos eletricistas, principalmente no que tange à mobilidade – está cada vez mais difícil vencer o trânsito para atender às ocorrências.
Acontece, porém, que alguns setores da nossa imprensa não se conformaram em ver somente a fumaça, queriam ver fogo. Assim que soube do ocorrido, entrei em contato com o gerente da regional e com o colega que nos apóia na comunicação local. Tudo explicado, comecei a atender os diversos pedidos de esclarecimento, deixando claro que não se tratavam de explosões como as acontecidas no Rio de Janeiro, onde o cabeamento da energia corre junto com a tubulação de gás – situação que não ocorre em Santa Catarina.
Pouco tempo depois começam a pipocar as “matérias” sobre as “explosões”, cheinhas de adjetivos. Fumaça virou fumaça negra. Pessoas assustadas “corriam e gritavam”. Rapidinho chegou o primeiro telefonema de um portal nacional. Pacientemente, liguei pra alguns, expliquei a diferença, tentando evitar a reprodução dos erros nos veículos impressos do dia seguinte. Em vão.
Depois de dar umas dez entrevistas, algumas às dez da noite, outras às sete da manhã, outras ao vivo com problema de link, o gerente regional já estava exausto. Eis que aparece uma nova ligação: “aconteceu de novo, um colega viu mais um bueiro explodir, agora no Sambaqui”. Não é bueiro, é galeria subterrânea. Não, não temos cabeamento subterrâneo no Sambaqui. Não, não estamos omitindo nada nem minimizando a situação.
Pensa que adiantou? “Mais um bueiro explode em Floripa. Agora no Sambaqui”. Comentários raivosos amplificam o absurdo.
É, realmente acho que fizeram certo em questionar a validade do diploma de jornalismo. Muita gente que tem, joga o seu no bueiro. Quer saber mais? Fiz a minha parte. Que se exploda.


(luminária criada pelo designer alemão Ingo Maurer)

29.2.12

Minhas férias

Na verdade não sei se dá pra oficializar como férias uma semana “espichando” o carnaval. O fato é que eu tava precisando mooento desses dias longe da rotina pra arejar os pensamentos. Consegui desligar bastante de email e celular e me policiei pra não me envolver muito com assuntos do trabalho. Talvez por fazer quase um ano e meio que eu na parava, achei que esses dias renderam um monte!

Viajei pra passar o carnaval no Rio, ri bastante com amigos, tomei uns pilequinhos e esqueci das horas. Aqui aproveitei praia, cinema, coloquei algumas leituras em dia, arrumei gavetas, fui ao médico, dormi bastante e até renovei o enxoval de cama, mesa e banho. Incrível como um dia inteiro livre rende!

Hoje, pra fechar com chave de ouro, peguei uma prainha clássica, vazia. Tirei um belo cochilo depois do almoço no ar condicionado e ri sozinha assistindo comédia dublada na sessão da tarde; o ápice do “dolce far niente”.

Foi muito bom... Mas agora chega. Fé em Deus e pé na tábua até setembro, quando tiro as três semanas que faltam.

Valeu!

Lucidez

Foi o adjetivo que elegi pra externar minha opinião sobre a obra da Maria da Graça Dutra, o livro “O cavalo do padeiro”, no qual ela conta a própria trajetória na defesa de um ideal. A causa abraçada por ela, a de defender e ajudar os animais, não é das mais gratas, principalmente na capital da farra do boi, mas os inúmeros obstáculos só fortaleceram seu propósito de trazer um pouco de luz sobre esse assunto que é de todos nós, queiramos ou não.

O Gu e eu tivemos a oportunidade de trabalhar um pouco pela causa nos idos de 2005 e, por meio do conhecimento da Graça, conseguimos sair da ignorância em relação ao tema. Para sempre seremos defensores dos animais e de todo e qualquer ser que precisar e puder contar com a nossa ajuda.

Mas, voltando ao livro, falo em lucidez porque, ainda hoje, muita gente classifica os protetores de animais como “a velha dos gatos” ou a “louca dos cachorros”, mas é preciso bastante esclarecimento para enxergar e entender a questão. E isso a Graça tem de sobra. Tanto é que hoje temos em Florianópolis uma estrutura profissionalizada e institucionalizada na prefeitura para atendimento aos animais e seus donos. Somos modelo nacional.

A leitura de “O cavalo do padeiro” mostra que o X da questão é a ignorância, a falta de informação que impera entre os racionais. Além de tudo, é muito bem escrito, bem contextualizado, emocionante e conta com a ironia fina dessa grande mulher.

Recomendo com louvor e deixo meu exemplar à disposição pra quem quiser emprestado.



O Cavalo do Padeiro
de Maria da Graça Dutra
(PalavraCom Editora)
Prefácio de Mario Pereira
208 páginas