16.2.09

E quem vai contrariar o Ruy?

Na Folha de hj, página A2.

RUY CASTRO

Quem são os animais?
RIO DE JANEIRO - Meu gato Fu Manchu, 6 anos, baixou hospital na semana passada. O que parecia uma infecção urinária revelou-se uma obstrução na uretra, provocada por cálculos na bexiga -cinco cristais intrometidos, que se alojaram ali para provocar agonia e dor. De repente, foi preciso operar. Durante alguns dias, fiquei privado de uma companhia que sempre me confortou, por amorosa e alerta.
Tanto em casa como na clínica felina onde o internamos, em Botafogo, pude sentir a entrega dos profissionais que o cuidaram. Já passei por muitos gatos e veterinários, e sempre achei que a relação entre eles era especial. Como, por deficiência humana, não somos capazes de dialogar com os gatos e perguntar sobre seus sintomas, o veterinário precisa de mais que ciência e sensibilidade para chegar ao problema e à solução.
Precisa, por exemplo, de humildade, para estar ali a tratar de um ser que, pelos padrões estabelecidos pelo homem, não pertence à escala superior deste mesmo homem. No entanto, o que se coloca em suas mãos, na mesa de cirurgia, é uma vida tão preciosa como qualquer outra -e que é cara aos que cuidam ou se deixam cuidar por ela. Sempre que entreguei um gato a um veterinário, torci para que este fosse o melhor ser humano que eu poderia ter escolhido naquele momento.
Daí que o trote selvagem aplicado há uma semana pelos veteranos de uma escola de veterinária em Leme, SP, num calouro -chutes, chicotadas, intoxicação alcoólica e ser lambuzado com fezes e com animais em decomposição- levou-me a pensar melhor nas relações entre humanos e animais. Fez-me perguntar: "Quem são os animais?".
Gostaria de saber os nomes daqueles futuros veterinários -para, nem por acaso, um dia, deixar um de meus gatos ao alcance de sua ferocidade.

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