12.6.08

A pedido

Pedido de sogra a gente não nega, e independente disso, acho que o registro é importante, então aí vai:

O Grotesco no Ensino Fundamental
Falamos e brigamos por melhor qualidade de ensino fundamental. Discutimos e alertamos para a democratização do acesso e do conhecimento. Um fato que considero grave ocorreu hoje em uma das melhores escolas da Ilha. Este fato certamente terá consequências que poderão causar problemas sérios de aceitação e de auto-estima para uma menina de 11 anos.
O fato: uma professora propõe como tarefa que as crianças escrevam uma carta de amor ou de amizade para algum(a) colega da classe. Uma menina chega aos prantos em casa - não recebeu nenhuma carta, enquanto sua amiga, filha da professora, recebeu quatro.
O problema: em primeiro lugar, cabe questionar a teor da tarefa, que estimula em crianças de 11 anos a questão do namoro (precoce) e indiretamente, o consumo (atrás da carta vem sempre o presente). Dia dos namorados, assim como dia das mães/pais/professores são todos os dias; criar um dia, com tamanho gasto de propaganda e ofertas de presentes, é no mínimo, uma atitude comercial.
Em segundo lugar, e mais grave, foi a estratégia utilizada. No mínimo, esta professora deveria ter sorteado o nome das crianças, para que todos recebessem uma carta. Se a mesma é tida como exercício de redação e, quiçá, de interação lúdica, o sorteio não só garantiria que todos escrevessem e recebessem, como a tarefa protegeria os tímidos (o foco seria o desafio da escrita e não o receptor), conteria os excessivamente extrovertidos, e bloquearia a proposição de um namoro como algo necessário e um bem a ser adquirido aos 11 anos de idade.
É lamentável que tais coisas ainda possam acontecer. Será que esta professora é licenciada em educação? Será que há planejamento e discussão do mesmo nesta escola? Onde está o papel do coordenador pedagógico? Se uma escola particular, de ponta, toma uma atitude destas, a situação do ensino no Brasil realmente chegou às raias do grotesto.
Biange Cabral - teatro-educadora UDESC/UFSC

Nenhum comentário: