15.9.05

Quem é maior? a razão ou a culpa?

Hoje, não pela primeira vez - e infelizmente acredito que não será a última - tivemos que interromper o sofrimento de mais um gatinho, o que sem eufemismos quer dizer mandar sacrificar. Foi a segunda vez. A Clarinha, uma gata que tínhamos tirado da rua caiu ano passado da sacada do nosso apartamento, no terceiro andar. Quebrou a coluna e ficou paralítica. Aguentamos ver o sofrimento dela por 24h e encaminhamos pra eutanásia. Dessa vez foi o Michel. Há um mês encontrei ele encolhidinho na rua, todo molhado. "Largaram aí ontem à noite, e ele ficou na chuva", berrou uma dona de casa desalmada. Coloquei no carro e levei pra veterinária e ele foi medicado. Estava com desidratação profunda. Desde a primeira vez ela alertou que ele poderia ter uma doença grave. Mas era tão bonitinho, e tava reagindo tão bem...Tratamos dele por um mês com homeopatia. Ele engordou, ficou bem mais bonito, mas tinha um comportamento bem estranho prum gato. Não conseguia descer de uma cadeira, tinha os olhinhos opacos e não aprendia a usar a caixinha de areia. E às vezes, quando se assustava tinha uma reação esquisita, também conhecida como convulsão. Fomos levando, na maior função de mantê-lo isolado dos nossos dois gatos, por não saber de que doença se tratava. Já tinha até uma moça que queria adotá-lo e tínhamos conseguido agendar a castração de graça com um vet da prefeitura. Mas ele foi piorando, piorando...até chegar ao ponto de ter convulsões cada vez mais seguidas e mais chocantes. Do tipo que faz quicar no chão e espumar pela boca. Depois disso ele ficava tão transtornado que atacava qualquer um que estivesse por perto. Na última que presenciamos, o destino do Michel foi traçado por nós: eutanásia.
Claro que não tínhamos condição de ficar com ele, afinal já temos dois gatos, trabalhamos fora, tem crianças que frequentam o apê direto. Também não poderíamos doá-lo nessas condições. Ia sofrer ele e a dona. A veterinária deu o maior apoio: "eu não teria esperado tanto". Tivemos que usar o bom senso e a razão.
Só que isso foi hoje de manhã. Deixamos ele lá, parecia super bem, dentro da cestinha. Não ficamos pra presenciar. Depois do trabalho vamos lá buscar o corpinho pra enterrar, consegui uma pá emprestada, já está no carro. E aí, quem é que vai pensar em razão? É CULPA pura.
Como diz a minha psicóloga: "acho lindo isso, mas eu não faria". Esse é o maior problema. Quase ninguém faria. Mas pra quem já se sensibilizou pela causa, é um caminho sem volta. Se eu deixo o gatinho onde estava, ele ia morrer também. Mas com certeza, antes disso ia passar muita dor, frio e fome, e a morte não viria dentro de uma seringa. Pelo menos passou alguma semanas comendo bem, medicado, dormindo numa cesta quentinha e ganhando muito chamego. É por isso que a saga continua. Entre a culpa e a razão, acho melhor ficar com a compaixão.

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